Moçambique, terra queimada / Jorge Jardim

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Descrição

“Só há perigo e se joga o drama, quando homens que vêm de longe (e por isso se consideram mais civilizados) ateiam o fogo para desvendarem a selva que desconhecem ou para se protegerem dos medos que os assaltam.
No reflectir nocturno dos olhos da gazela julgam adivinhar a proximidade agressiva do leão. Fazem crepitar o lume, que não dominam, e depois assustam-se quando a África Ihes responde com a força mágica que desencadearam.
Então, até a terra arde.
Julgando tudo saberem, só por nada terem aprendido, esses homens sem cor assistem impotentes à destruição que provocaram. Não acertam em entender de que lado está o vento e tudo tentam explicar, desculpando-se confusamente, para fugirem apressados do
braseiro.
Atrás deles deixam a terra queimada e abandonam as vítimas inocentes que a surpresa apanhou desprevenidas.
Essa grande queimada, feita fora do tempo, nada tem de africana mesmo quando em África a ateiam. Dessa, até os sábios velhos do mato têm medo. Essa queima as raízes, faz arder a terra e não permite que o capim espontâneo volte a brotar.
Quem ali viveu intensamente longos anos, e ali deixou a alma presa ao feitiço que inegavelmente existe, não pode esquecer a imagem dessa grande queimada da descolonização que não foi mais do que fogo posto por mãos ignorantes e criminosas. Mãos de gente que não pertencia à África.
Mas as dores tiveram de ser sofridas, sem culpa, pelos africanos de todas as raças atingidas pela mais monstruosa traição que naquelas terras se conheceu.” in Introdução


Intervenção, 1976. Com 416 [55] p. ; 21 cm; Broch.
[Bem conservado]

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