Descrição
«Em todo o lado, na Argélia, homens negros descem do Sul para Norte e vão de cidade em cidade para ganharem a vida tocando os seus instrumentos e dançando. Entregam-se a verdadeiras técnicas de possessão do corpo e estão permanentemente num estado de hipnose e de êxtase prolongado. A boca escumante, o suor gotejante sobre o ébano Uso da sua pele, vão, de rua em ruela e de ruela em viela, cantar e dançar em frente das casas. A cada pausa, dão-lhes uma moeda ou um naco de pão. Surgem, geralmente, vestidos com peles de animais e assustam as crianças que os seguem apesar disso e correm atrás deles. Estes músicos utilizam castanholas, gaita de foles (ghaitas) e pequenos tambores. Cantam ladainhas religiosas e representam facécias para divertir o seu público. Apreciam-nos bastante, mas temem-nos um pouco, porque são membros de confrarias religiosas do Sul Argelino. Evita-se maltrata-los ou lançar-lhes Injúrias, pois detêm – de acordo com Lalla Fatma – um poder maléfico muito poderoso. Esta, aliás, não gosta muito que os seus filhos se aproximem demasiado deles. Estas pequenas orquestras das ruas, que se chamam stam’bali em Biskra e boussadia na região de Constatina, tendem a desaparecer e já não se vêem em Argel nem nas maiores cidades do país, Por outro lado, em Tlemcen. Um outro género de orquestra de ruas se perpetua e contínua esta tradição musical: trata-se do quarquabo, constituída por músicos brancos que não sabem utilizar completamente as técnicas de possessão do corpo e se limitam a tocar assoprando nas suas flautas e percutindo nos seus pequenos tambores. Fazem principalmente a admiração das crianças. Mal os ouvem chegar ao longe, elas correm para junto das mães reticentes à procura de algumas moedas, depois continuam a segui-los, a dar-lhes réplica e a provocá-los amavelmente.»
Detalhes
- Autor/a:Rachid Boudjedra
- Editora:Livros do Brasil
- Ano:1972
- Descrição Física:Com 255 págs.; 22 cm; Broch.
- Condição:Capas com alguns sinais de manuseamento; miolo bem conservado