O Mito dos Jesuítas : em Portugal, no Brasil e no Oriente (séculos XVI a XX) / José Eduardo Franco (2 Vols.)

REF: HITGER0972 Categorias: , ,

50,00 

1 em stock

Descrição

Os Jesuítas, uma ordem fundada por Inácio de Loyola e instituída em Portugal em 1540 por Francisco Xavier e Simão Rodrigues, constitui uma das congregações simultaneamente mais fascinantes e mais controversas da história portuguesa e europeia.

A Companhia de Jesus exerceu, de facto, uma influência modeladora na Igreja, na sociedade, na política e na cultura portuguesas desde a sua fundação. As diferentes leituras do papel desta ordem na história de Portugal continuam a dividir os historiadores quanto ao valor real da sua acção. Tal se deve, em grande medida, aos estereótipos que ainda persistem, resultantes das intensas propagandas antijesuíticas e filojesuíticas que produziram, por um lado, um mito negro e, por outro, um mito luminoso em torno desta Ordem religiosa.

Portugal foi o primeiro país a acolher a Ordem de Santo Inácio, logo no primeiro ano da sua aprovação pelo Papa Paulo III, e a dar-lhe, ao mais alto nível, um apoio que se revelou decisivo para a sua afirmação na Europa e nos espaços ultramarinos abertos à missionação.

Mas Portugal foi também o primeiro reino a expulsar impiedosamente os Jesuítas, na época das Luzes, pela mão do Marquês de Pombal; medida extrema que veio a ser reeditada duas vezes: em 1834, no quadro da restauração do Liberalismo, e em 1910, pela I República. No entanto, a Companhia de Jesus conseguiu regressar sempre e reerguer-se com notável rapidez e eficácia sobre as ruínas das suas extinções, deixando uma marca indelével em importantes domínios da vida do nosso país.

Esta obra fascinante de José Eduardo Franco resulta de uma intensa investigação de sete anos sobre a natureza e a acção da Companhia de Jesus e em torno da propaganda de ataque e de defesa dos Jesuítas ao longo de quase cinco séculos de história. Estamos perante um projecto de investigação e fundamentação únicos que opera a desconstrução dos estereótipos e propõe um roteiro para a compreensão global do mito da conspiração que se gerou à volta dos Padres da Companhia em que se empenharam figuras políticas cimeiras do nosso país.

«A tese de José Eduardo Franco constitui um trabalho excepcionalmente rico, amplo e inovador, fundado em grande erudição e fecundado com inteligência histórica. Esta obra constitui uma notável contribuição para a história e para a antropologia religiosa da modernidade.»

PHILIPPE BOUTRY

Códigos secretos de conspiração, influência junto do poder político, práticas comerciais ousadas, direcção dos tribunais da Inquisição, assassínios de reis e príncipes, artes de vencer e dominar, cultura superior, manipulação das consciências, em especial as femininas, são alguns dos temas fortes da propaganda antijesuítica que fizeram da Companhia de Jesus uma das ordens mais fascinantes, mais misteriosas e mais temidas de sempre. O mito negro dos Jesuítas e do seu fabuloso projecto de dominação universal, a partir das Reduções do Paraguai e da educação dos espíritos, constituem uma das produções mais modeladoras da nossa História e da nossa cultura, que deixou marcas indeléveis em termos de mentalidade e da nossa forma de olhar o passado.
Há muito tempo que as culturas portuguesa e europeia esperavam uma obra que propusesse uma investigação e oferecesse uma proposta de compreensão global das graves controvérsias que fizeram dos Jesuítas a ordem da conspiração por excelência, muito à semelhança do que se propagandeou em relação aos Judeus e do que hoje se divulga sobre o Opus Dei. Os Jesuítas foram responsabilizados, particularmente desde o Marquês de Pombal e até à I República, pelo que de pior aconteceu em Portugal, imputando-se-lhes a responsabilidade pela decadência da ciência e da cultura, pelo atraso português em relação à Europa, pelos fracassos do império ultramarino e pelo obscurantismo e ignorância geral que impediam o país de progredir. Será tudo isto verdade?
Esta obra de José Eduardo Franco traça o percurso dessas longas controvérsias protagonizadas pelos mais relevantes políticos e intelectuais da História dos últimos cinco séculos e propõe uma explicação global para o fenómeno do antijesuítismo que ainda continua a conquistar adeptos nos nossos dias.

«José Eduardo Franco […] irrompeu abruptamente na historiografia da cultura portuguesa em 1997 com a publicação de Vieira na Literatura Anti-Jesuítica. Séculos XVIII – XX […]. Livro que subverte a visão cultural racionalista e iluminista dominante desde a publicação dos textos Relação Abreviada (1757), Dedução Cronológica e Analítica (1768) e Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (1771), orientados pela perspectiva histórica do Marquês de Pombal, prosseguida por Antero de Quental, nas Causas da Decadência dos Povos Peninsulares (1871), e pelos Ensaios de António Sérgio, Sílvio Lima e Hernâni Cidade. […] JEF, não sendo jesuíta, inicia, 250 anos após a primeira expulsão de Portugal dos jesuítas, o processo de desculpabilização histórica da Companhia de Jesus, evidenciando, de um modo rigoroso e metodologicamente insuspeito, não comprometido ideologicamente com a antiga visão inaciana, um processo de cicatrização de uma das mais fundas chagas sangrentas da história de Portugal. Deste modo, o estatuto da intervenção historiográfica de JEF revela-se necessária para que o novo Portugal europeu vire definitivamente a página de uma historiografia empenhada, comprometida seja com a perspectiva metafísica da cultura portuguesa, cultivada entre a segunda metade do século XVI e os finais do século XVIII, seja com a perspectiva racionalista, positivista e jacobinamente anti-eclesiástica, dominante desde o constitucionalismo de 1820 e enfaticamente assumida como doutrina oficial ao longo da I República.»
Miguel Real


Gradiva, 2006. 2 vols. (627 e 463 págs.) : Ilust.; 25 cm; Broch.
[Com ligeiros sinais de manuseamento e bem conservado]

Detalhes