Descrição
À distância, por vezes, observam-se com agudeza maior os particularismos de uma dada sociedade. No habituado contacto com as suas taras estruturais, quem nela vive acaba amiúde por as legitimar sem disso se aperceber. Charles Reeve, que vive entre Paris e Nova Iorque (com poisos em Tavira), tem a vantagem do olhar cosmopolita que, num relance, lhe permite apreender em Portugal aquilo que um nacional facilmente não vê. Mas tem ainda outro trunfo: nascido em Lisboa em 1945, banhou desde sempre na história social deste país, a que já dedicou vários estudos.
Charles Reeve é Jorge Valadas. Nascido em Lisboa em 1945, entrou com 18 anos na Escola Naval para logo descobrir que se tinha enganado na porta. Oposto à guerra colonial, desertou em 1967 para Paris, onde viveu o Maio de 68 ao lado das correntes antiautoritárias, e depois para os Estados Unidos, para assistir ao movimento contra a Guerra do Vietname. De regresso a França, tornou-se electricista – ofício manual que não lhe comprometia a independência crítica – e começou a publicar os seus ensaios. Fez parte do núcleo dos Cadernos de Circunstância (1969-71) e participou no jornal Combate (1974-78). O Tigre de Papel (1975), obra sobre o capitalismo de Estado na China, põe a nu as injustiças intrínsecas de um sistema que a globalização disseminou. Crónicas Portuguesas (2001) e A Memória e o Fogo (2006), inquietas reflexões de veia libertária, dão uma visão desafogada sobre o quotidiano social e psíquico dos portugueses. O pseudónimo Charles Reeve é uma homenagem a um militante sindicalista-revolucionário, condenado em 1916, em Sidney, a dez anos de degredo por sabotagem ao «esforço de guerra».
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Fenda, 2001. Com 126 p.; 21 cm; Broch.
[Capas com ligeiros sinais de manuseamento; miolo bem conservado]
Detalhes
- Autor/a:Charles Reeve, Jorge Valadas