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PREFÁCIO
Dois sentimentos se chocaram dentro de mim, quando o bom amigo Prof. António João Cadete Madeira, a quem Vendas Novas já é devedora de um trabalho invulgar e de uma dedicação que atinge o limite do possível, me pediu umas palavras de introdução à monografia agora dada a lume pelo jovem investigador e colaborador assíduo e prestimoso do “Notícias de Vendas Novas” — Artur Aleixo Pais — que se vem afirmando um verdadeiro valor entre os poucos saídos de Vendas Novas.
Tal como o avô — Dr. Artur Aleixo Paes — homem que marcou uma época como médico dedicado ao povo da sua terra adoptiva, trazendo no peito uma fogueira de amor pela promoção de Vendas Novas, um autêntico centro de gravidade, para o qual convergiam todas as esperanças da terra, o catalisador de documentos e ditos trazidos pelas gerações que foram povoando esta charneca imensa, o tipo do homem público de agradável relacionamento, embora votado a longos silêncios, onde mergulhava num verdadeiro “arsenal” de documentação que ao longo da sua vida soube captar, expurgar do inútil, arquivar e publicar em jornais da época, tudo quanto um dia havia de ser útil para a história de Vendas Novas.
E quem lhe havia de dizer que seria um seu neto que viria a personificar, no nome e na vocação, dando continuidade à eminente obra por ele começada?!
Pois é ao Dr. Artur Aleixo Pais, jovem verdadeiramente apaixonado pelo passado e pelo presente da sua terra, que se fica também a dever o melhor e mais completo trabalho de compilação de documentos para a sua história, que um dia, a ser feita, não pode esquecer a fonte e o rio desse mesmo trabalho.
Ele tem o material indispensável.
Ele é um admirador do seu avô e um apaixonado pela sua obra.
Ele sabe mergulhar no silêncio em longas horas de cada dia.
Por isso ele sabe ler os acontecimentos e interpretá-los, e expurgá-los, e catalogá-los e lançá-los, não no mercado, porque não sabe mercadejar com os valores do espírito, recebidos por via paterna, mas no coração de todos os verdadeiros vendasnovenses, que assim se podem equiparar às grandes terras de longas tradições e que 8 filhos seus devem as “pontes” de ligação com o passado.
Quem ler “devotadamente” este volume, a que poderíamos chamar o “Primeiro” há-de constatar o cuidado na escolha dos documentos; a humildade em dar o nome aos autores das fontes, porque citar sem se apropriar é apanágio de uma consciência bem formada; a simplicidade em se reconhecer tal qual é; a situação no tempo e no espaço, dando a quem lê uma situação de segurança, porque de verdade, de agradável leitura, porque num estilo leve e popular.
Dos capítulos desta monografia, o VIII, para mim, é o mais Curioso e atractivo, pelo tema — A Capela de Santo António do Outeiro, antes dedicada a S. Fernando, filho de D. João I e que foi tido e venerado como santo — pela minúcia de anotações à volta e dentro da vida religiosa da primitiva igreja paroquial, de como se fez a passagem da sede do Outeiro para a Real Capela, que por isso mesmo também foi dedicada a Santo António, a deterioração da dita igreja, a ponto de chegar a total ruína, até liturgicamente os termos que definçm as coisas e as acções, enfim, uma viagem de séculos dentro de umas breves páginas.
Teve o Autor o cuidado de dispor de tal modo os acontecimentos que a sucessão dos mesmos não cansa, antes pelo contrário, apaixona cada vez mais, pela ligação dos nossos dias que todos já vivemos e celebrámos.
Enfim, estamos todos de parabéns: o Artur Aleixo Pais pelo que dá em moldes de mestre consciente e seguro; nós que o sorvemos numa crescente curiosidade que nos encanta e sacia; e o “Notícias de Vendas Novas” que levantou um padrão à memória do passado, à glória do presente e aponta rumos para uma nova escalada do futuro.
Vila Viçosa, 13 de Maio de 1985.
P. José Maria Dias
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