Os Grupos de Adolescentes / Philippe Robert

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Descrição

INTRODUÇÃO

Esta obra é resultado de múltiplas tentativas que se desenrolam por vários anos. A ideia inicial foi sugerida pela supervisão de um contacto com um bando. Os ensinamentos, que então se colheram, foram expostos depois.  Certas conversações e contactos com vários especialistas, magistrados, criminologistas e sociólogos, psiquiatras  e psicólogos, educadores, etc. matizaram a paleta que já estava  a compor-se. Diversas lições deram azo a analisarem-se sistematicamente os trabalhos sobre a matéria e a apreciarem-se as respectivas informações. Por outro lado, esses cursos permitiram experimentar as ideias-mestras em que se baseia este livro, junto do qual se situam trabalhos anexos.

Os bandos de adolescentes não constituem uma realidade social suficientemente permanente e suficientemente conhecida para que a ambição de escrever um tratado de síntese exaustiva seja razoável e comporte alguma oportunidade de êxito; no entanto, foi-se notando a pouco e pouco a utilidade e mesmo a necessidade de ser esclarecida Sob que aspecto devia encarar-se? Alguns já foram suficientemente explorados e não nos interessa considerá-los. Era inútil lançar um largos inquérito estatístico, visto o Centro de Formação e de Investigações da Educação Vigiada já se ter ocupado largamente desse género, servindo-se de diversos meios institucionais. E, desde então, encontra-se à disposição dos investigadores uma importante quantidade de documentos. Também devíamos pôr de lado a exposição monográfica ou clínica, facilitada por uma longa experiência num posto de observação, ou um trabalho prolongado no próprio terreno.

De que maneira seria possível, então, determinar o melhor possível a especialidade dos bandos e, em primeiro lugar, como defini-los?

Para falar verdade, é impossível e seria perigoso esperar que uma definição bem burilada nos indicasse o objectivo exacto destas considerações e a sua orientação. Para já, basta delimitar o problema: designa-se por bandos certos grupos informais, compostos essencialmente por adolescentes em número bastante restrito devendo precisar-se que o conjunto da sociedade considera a atitude desse grupo marginal e até divergente; alguns dizem mesmo patológica. As suas actividades e, por vezes, a sua delinquência dão a esta apreciação um apoio objectivo. Isto basta para atrair a atenção para três características: um grupo informal homogéneo divergente relativamente ao meio que o rodeia a divergente numa idade que é a da inserção social.

E, assim, o problema esclarece-se. Não vamos encerrar-nos em caminhos pertencentes à socio-criminologia, pois a delinquência, como já se admite, não constitui o carácter essencial dos bandos. que está em primeiro lugar é o estudo do grupo. Esta ideia vai guiar todas as considerações ulteriores.

Os bandos de adolescentes são essencialmente pequenos grupos.

Os temas da micro-sociologia contemporânea encontram, neste caso, uma repercussão e um campo de aplicação particularmente interessantes: funções, interacções, consenso, conflitos, relações entre o grupo e o meio ambiente…

Assim, a realidade do grupo há-de reter a nossa atenção de maneira prioritária e será ~ente numa segunda parte que trataremos das características individuais dos membros de bandos. Mas, se o espírito do trabalho já está delineado, resta delimitar com precisão o campo do estudo e, senão justificar, pelo menos explicar os limites considerados. Tem de se situar os bandos de jovens em face de uma série de outros problemas, com os quais se relacionam e, simultaneamente, se distinguem. O seu estudo deve efectuar-se no contexto das ciências sociais da juventude e, especialmente, em relação com as outras formas de grupos de adolescentes.

De resto, todos os grandes temas deste ramo das ciências sociais devem ser considerados a propósito dos bandos.

Deste modo, adolescência e maturação social são valorizadas presentemente, devido a limitações demográficas ignoradas durante demasiado tempo, e também a uma vaga de trabalhos que se apoiam e reforçam mutuamente.

Começar-se-á por enquadrar o assunto nas duas dimensões do tempo e do espaço, o que é especialmente importante numa matéria em que a adopção de posições depende rapidamente da ambiguidade historizante e do amálgama geográfico. Explicar-se-á, então, porque escolhemos falar dos bandos apenas na França contemporânea.

Será também necessário pôr a questão das idades: os bandos são primeiramente e essencialmente uma espécie de grupo peculiar da adolescência. Teremos de mostrar todas as implicações desta proposição. Mas duas espécies de idades próximas, os estudantes mais velhos e os jovens adultos, também lhes estão relacionados.

Finalmente, os bandos devem ser situados relativamente à delinquência associacional, pois foi sob esse aspecto que, em primeiro lugar, foram considerados. Só depois de dois capítulos preliminares, um consagrado a essas delimitações, o outro à apresentação dos trabalhos anteriores, é que será possível portanto entrar no âmago do assunto, estudando os bandos, espécies de grupos de adolescentes, e as suas relações com a sociedade global do meio ambiente.

E é preferível fazer-se, desde já, uma observação de terminologia.

A comissão consultiva da infância delinquente ,e socialmente inadaptada da União Internacional de Protecção da Infância escolheu o termo «teddy-boyismo», no seu colóquio de 1961, em Friburgo im Brisgau. Essa palavra soa de maneira desagradável. Julgámos preferível usar a ide Bando universalmente usada, aliás, em língua francesa como é a de Gang pelos autores americanos. Essa terminologia, porém, obrigará a algumas precisões nas páginas que se seguem.

 

Detalhes:

Idioma: Português

Editora: Moraes

Ano: 1969

Descrição Física: 331 p. ; 23 cm

Condição: Bem conservado