O Duelo / Bernardo Santareno

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Descrição

«Ora nesta estrutura irrealista por filosofia e por concessão há a interferência de outras estruturas, que resumia rei numa só: a do diálogo, da fala viva. E aí é que B. S. revela sempre as suas melhores qualidades. Se noutras peças consegue desentranhar as possibilidades rítmicas e imaginíficas superiores da fala marítima e aldeã, nesta percorreremos as zonas do calão de gaiatos e adolescentes viciados da alta burguesia, as linguagens de camarim, sala e restaurante – e, enraizando de facto na fala viva, todas essas atmosferas dão na peça a impressão de realidades estilizadas no sentido de uma certa graça imanente a cada uma, no sentido de urna certa plenitude estética a que tendem, dentro dos respectivos limites. Assim como de um. conjunto de vibrações acústicas determinadas o músico obtém algo dotado de suficiente coerência e autonomia estética, um dramaturgo, pelo diálogo, pode obter estruturas dinâmicas, séries e sobreposições de entonações, de atitudes afectivas em que por fim se reconhece, ou se vai passo a passo reconhecendo, ou um tom ou desenho significativo. E é o que acontece com esta peça, apesar de certo convencionalismo geral das situações, dos tipos e da filosofia. Tirante um ou outro comparsa caricatural, o autor repartiu-se afectivamente pelas personagens, e, com humor ou sarcasmo, estilhaçou toda a compunção banal para melhor aderir, sobretudo num, ou noutro irreprimível tremor de frase. E eis que, pela simples reelaboração da faia, daquilo em que todos somos crias dores anónimos e quotidianos (a linguagem não passa, toda ela, de metáfora, de poesia sedimentar e inconsciente). E. S. vai até onde a sua simbologia religiosa não chega.»

Óscar Lopes, em «Comércio do Porto»