Descrição
PREFÁCIO
1. Este barco encalhado» é o resultado do encontro de gentes de diversos quadrantes, que representam interesses distintos, se exploram e oprimem, lutam e, de um ou outro modo, coabitam e se relacionam; e é por isso, necessariamente, o produto da confluência e choque de várias culturas. A sua existência presente articula-se com o passado e as suas perspectivas futuras. Obra de ficção que é, O Barco Encalhado funciona como tal, com o seu universo próprio, as suas leis, mecanismos e «razões»: mas é, também, um texto que se quer um acto de intervenção face à realidade a que alude directa e claramente: a da Ilha de Moçambique.
2. O barco-Ilha é a personagem principal, o protagonista da novela. No dizer da personagem Sequeira, ele condensa e testes munhas é a «história de um povo». Os monumentos isolados, as casas e as personagens humanas que o povoam e comentam a sua situação e história não têm vida autónoma. A sua apresentação e caracterização fazem-se nos dois aipi-tulo• iniciais. Primeiro, a situação de decadência e abandono, um tempo parado, sem rumo definido. A ausência de actividade produtiva, o lixo acumulado, as casas que caem durante a noite, a ponte a ruir, o farol apagado, as ratazanas e as moscas, «a peste» de Camus, o «barco encalhado» do título. Uma sugestão de fim, de algo que morre, num tempo intervalar. Entretanto, surge o passado, a história. Árabes, indianos, portugueses, holandeses, a população local; o comércio, urna fortaleza, a exploração e a dominação, a escravatura e o cai Usino. A completar o quadro, a degradação social e moral. (…)
Bruno da Ponte
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