Descrição

Fotografias de José Pessoa.
Entramos na Catedral. Percorremos com curiosidade o comprimento das naves do templo, esforçadas em revelar um românico imaginado. Chegamos à charola e as coberturas alongam-se, a penumbra misteriosa dá lugar a uma insistente e ainda tímida luz e, logo numa das capelas mais próximas, do lado da Epistola, deparamo-nos com os primeiros sepulcros medievos. Inicia-se o percurso do fascínio das formas, a tentação das descobertas difíceis e um nunca mais acabar de perguntas cujo eco ruidoso, às vezes, se perde…
Olhando-os com atenção, facilmente percebemos que estamos diante de obras-primas, cujo requinte e imponência transporta inevitavelmente a nossa imaginação para outros exemplares tumulares, hoje desaparecidos, e que em tempos enriqueceram este espaço religioso com memórias de vida dos “grandes” do reino português.
Tentamos então imaginar como seriam os monumentos pétreos executados por vontade do rei e da rainha, os dos filhos e outros familiares, para ali, na capela-mor de Santa Maria de Lisboa, repousarem ao abrigo de S. Vicente, com esperança e fé no dia da Ressurreição. Tentamos imaginar um esplendor perdido sob os escombros dos muros e abóbadas que num dia de Setecentos ruíram desastrosamente, soterrando consigo memórias, segredos e devoções. Já nada resta. Fica-nos o pálido consolo de descrições sumárias de homens que em tempos diferentes puderam contemplar a magnificência dos túmulos régios antes do desas- troso dia. Mas tantas perguntas ficam sem resposta… Abandonamos então os pensamentos sem solução e continuamos com passos largos e sintomaticamente ansiosos em direcção ao claustro.