Geografia e Acção : Introdução à Geografia Aplicada / Michel Phlipponneau

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Descrição

PREFÁCIO

A geografia, uma ciência aplicada? Sim. Como as ciências da natureza e as ciências humanas, a geografia, que de umas e de outras participa e sintetiza elementos pertencentes a muitas delas, entra por seu turno na esfera das aplicações práticas.
Na sua fase de juventude cabia-lhe em primeiro lugar reunir materiais, definir métodos. Estes estão hoje perfeitamente forjados e a obra já realizada é considerável. Mas deve a geografia limitar-se a descrever, a explicar os diferentes aspectos do planeta? Não poderá o geógrafo ser de alguma utilidade na acomodação desse espaço de que faz o seu campo de estudo?
Esta nova orientação da geografia testemunha, sem dúvida, o espirito utilitário da nossa época. Mas as disciplinas que fazem os maiores progressos no domínio da «ciência pura», não são precisamente aquelas de que mais se espera no domínio prático? O geógrafo que empreende um trabalho com fim «utilitário» pode dispor de meios, pode sobretudo ter acesso a fontes documentais que seriam recusados a um investigador «puro», e a geografia, como ciência que é, deve beneficiar de investigações aplicadas. |
Por outro lado, a geografia está ameaçada por um duplo perigo. Perigo de fragmentação, porque os geógrafos, para aprofundar o conhecimento de certos fenómenos, têm de se especializar num ramo particular da sua disciplina e tendem mesmo, por vezes, a tornar-se verdadeiros práticos de ciências conexas, tais como a geologia, a sociologia, a economia política. Perigo de anexação do domínio geográfico por especialistas de outras disciplinas que, depois de terem estudado certos fenómenos, se interessam pela sua distribuição espacial e pelas suas relações com outros elementos do meio; os pedólogos já não analisam somente os tipos de solos, mas também a sua localização, os economistas ultrapassam o quadro das construções teóricas e, interessando-se pelas economias regionais, elaboram verdadeiras monografias geográficas.
Em certa medida, este duplo perigo pode ser afastado Se os geógrafos se dedicarem mais ao que marca a originalidade da sua disciplina: o estudo global de um complexo físico e humano num quadro espacial.
É a geografia regional aplicada que confere verdadeira originalidade à geografia. É ela sobretudo que pode dar lugar às aplicações mais fecundas num momento em que o homem se esforça para acomodar racionalmente o espaço. O desenvolvimento que estes estudos regionais podem conhecer com o aparecimento dessas novas necessidades, reforçará então a unidade da geografia.
Contudo, a geografia regional aplicada, ou planificação regional, não constitui senão o aspecto mais característico e o mais importante, indubitavelmente, das possibilidades de utilização prática da geografia.
A geografia exige um domínio completo sobre todos os aspectos dessa disciplina e um conhecimento suficiente dos métodos das ciências vizinhas, visto que visa acima de tudo a uma síntese. Mas alguns geógrafos, embora possuam as duas qualidades essenciais que a formação geográfica dá — o sentido da síntese e o sentido do espaço —, deverão especializar-se, no próprio interesse dos progressos da ciência; a variedade das suas intervenções práticas será então muito grande, tanto na esfera física como na esfera humana e económica.
Se a geografia não pode senão beneficiar com esta nova orientação, devemos constatar que em França alguns geógrafos, e dos mais eminentes, ficaram até estes últimos anos indiferentes, para não dizer hostis. Nas Universidades, o ensino é ainda orientado quase exclusivamente para a preparação dos concursos e, de facto, raríssimos são os geógrafos que fazem carreira fora do ensino.
E, no entanto, foi um francês, o marechal Vauban, quem, na sua Dixme royale, sublinhou pela primeira vez o interesse prático dos inventários geográficos e elaborou um verdadeiro programa de investigação de geografia aplicada. Mas na época moderna a escola geográfica francesa, uma das primeiras do mundo pela importância e pelo valor dos seus trabalhos científicos, deixou-se distanciar por numerosas escolas estrangeiras na utilização dos resultados científicos (…)