Descrição
Obra da colecção “temas portugueses” com organização e prefácio de Helder Godinho.
Uma antologia de estudos sobre Vergílio Ferreira tornava-se necessária para colmatar uma falta que impedia aos estudiosos, ou simplesmente aos estudantes, uma visão de conjunto sobre aquele que é um autor fundamental na literatura portuguesa. Porque a maior parte destes estudos encontrava-se, até agora, dispersa por jornais e revistas, poucos sendo os que estavam publicados em livro. Acontece mesmo que uma parte importante desta antologia, que agora se dá ao público e que é constituída pelo colóquio do Porto, se encontrava quase totalmente inédita.
Que Vergílio Ferreira é um autor fundamentalmente representativo da literatura contemporânea ninguém duvida. A sua grande originalidade — se se pode falar de originalidade no intertexto artístico — consiste no facto de nunca ter abdicado do excesso de sentido que transborda de todo o humano e, sobretudo, na intensidade com que sempre o perseguiu.
O excesso de sentido que o impediu de se manter dentro dos limites estrei-tos das ortodoxias, literárias ou não, fazendo-o transbordar as escolas e as influências na procura de um Sentido Final, excessivo a todo o quotidiano e que constitui a espinha dorsal verdadeiramente condutora ou axializante de toda a sua obra.
Sobretudo nos três últimos romances (Nítido Nulo, Rápida, a Sombra, Signo Sinal) desenha-se claramente a opção que desde sempre esteve contida nos livros de Vergílio Ferreira: ao quotidiano «histórico» — sujeito à mudança e a todas as formas que ela revestir — opõe-se a Permanência da Grande Ordem universal que, só ela, perdura e é estável e eterna numa palavra, só ela é real, tudo o mais são máscaras.
Os heróis vergilianos relacionam-se com a vida como os Heróis míticos: a sua gesta consiste em superar as provas do quotidiano (fundamentalmente nocturno) para poderem chegar à Manhã, onde uma outra Qualidade e um outro Saber lhes são revelados. E esses últimos romances, vão-nos dando, cada vez mais explicitamente, o desenlace feliz dessa iniciação: por detrás das diversas Ordens que estruturam o quotidiano, vai aparecendo, até à apoteose solar, o perfil, cada vez mais nítido, de uma Grande Ordem universal, onde o Herói, que agora a sabe, se vai inserir, atingindo assim a qualidade de iniciado nessa que é a verdade profunda da vida. E onde o apaziguamento final: «Sê apenas».
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