Carlos Porfírio : Cineasta / Emmanuel Correia

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Descrição

Edição Comemorativa do Primeiro Centenário do Nascimento de Carlos Filipe Porfírio.
O autor faz associar a sua investigação ao centenário do nascimento do cineasta biografado, não obstante os seis anos que separam a efeméride da efectiva publicação. Carlos Porfírio (1895-1970), realizador farense de curta obra, não deixa por isso de constituir um caso singular no que ao cinema português diz respeito. Pertencendo a uma geração conotada com os modernismos passou, neste âmbito, por duas aventuras cinematográficas de pouquíssima expressão no sul do país: a Filmes Sancho e a Gharb Film. Seria apenas nos anos 40 que assinaria as duas longas-metragens que o inscrevem na lista de realizadores portugueses, e às quais Emmanuel Correia dedica os seus esforços como investigador.
Se para Sonho de Amor, 1945, a análise contempla uma resenha sobre a produção e uma selecção fotográfica comentada; no caso de Um Grito na Noite, 1948, o autor acrescenta o guião seguido de um glossário, na medida em que o argumento foi escrito utilizando abundantes regionalismos. Na verdade, trata-se de um filme cuja acção se desenrola no Algarve raiano, com uma narrativa fidelíssima em termos sociológicos e antropológicos. Mas Carlos Porfírio é algo mais do que um cineasta consciente das realidades inerentes às suas raízes algarvias. No filme podemos encontrar referências à vanguarda soviética ou ao Expressionismo, bem como a outras correntes artísticas e não necessariamente cinematográficas. E se acontece assim neste filme, no anterior não será diferente.
Em Sonho de Amor, com acção situada na Lisboa de 1900, Porfírio relaciona várias correntes de expressão artística. Numa altura em que o Realismo-Naturalismo se vê, em Portugal, confrontado com propostas inovadoras, o realizador trabalha a acção confrontando a tradição com novas estéticas, com piscadelas de olho a Renoir, ao Cubismo, ao Expressionismo, enquanto Fragonard e o rocaille fazem de contraponto e, no campo literário, as referências a Eça e Ortigão são óbvias, nas figuras compostas por Olavo de Eça Leal e Fernando Maynard.
Carlos Porfírio, com esta rara capacidade entre nós, é o reflexo de que a sua carreira cinematográfica é apenas uma das várias facetas de um multifacetado artista. Vem de uma geração onde encontramos Leitão de Barros ou Cottinelli Telmo, igualmente dois artistas plásticos que também passaram pelo cinema. Mas também encontramos António Lopes Ribeiro ou Arthur Duarte, cineastas que andaram pela Mosfilm ou pela UFA, estúdios onde tiveram oportunidade de absorver conhecimentos estéticos e técnicos. Ora, Porfírio andou por Paris, como artista plástico, onde teve acesso à fruição e ao debate sobre arte. Não será por acaso que o jornal farense O Heraldo, por 1916, conta com a colaboração dos modernistas portugueses na secção “Gente Nova” dirigida por Porfírio, como não é de estranhar que a Portugal Futurista tenha sido por si dirigida. Por ambos passaram Santa Rita, Pessoa, Almada ou Sá Carneiro, com Porfírio como elemento agregador.
Em Paris, Porfírio teve relações próximas com Picasso, Vleminck, Kisling, Marcel L’Herbier, Jacques Feyder e Carl Dreyer. Frequentou escolas de arte e desenhou padrões para vestidos na capital da moda. Como pintor, abraçou várias correntes, e está normalmente conotado com um Impressionismo tardio, de que se serviu para retratar paisagens, tradições e costumes algarvios que bem conhecia. Encontrou no industrial Agostinho Fernandes um mecenas dedicado, que mais tarde fundaria a Cinelândia, estúdios e valências que permitiriam ao artista a aventura cinematográfica.
Será preciso entender que a súmula de experiências que fizeram o percurso de Carlos Porfírio fazem com que este artista tenha um lugar de destaque. E que enquanto cineasta de nenhum sucesso, está um realizador que soube relacionar de modo singular em Portugal a 7ª Arte com a sua herança histórica de vanguarda e com as artes plásticas. De lamentar é a perda das bandas sonoras dos filmes, bem como das suas montagens originais, em virtude da deterioração e manipulação ao longo de décadas. O livro de Emmanuel Correia, investigador de Alcoutim que em boa-hora analisa a obra cinematográfica de Carlos Porfírio, ganha por isso reforçado significado e importância.
Luís Gameiro

Detalhes:

Idioma: Português

Editora: Colibri

Ano: 2001

Condição: Muito bem conservado.