A Alienação do Homem Moderno / Fritz Pappenheim

Uma interpretação baseada em Marx e Tonnies.

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Descrição

Da introdução:

A alienação do indivíduo a tudo que não tem relação com a obtenção de seus interesses não penetra necessariamente na sua percepção, e ele nem sempre se dá conta do afastamento de seu próprio eu, ou o sente como uma experiência inquietante. Como resultado de seu desligamento, o homem é frequentemente capaz de alcançar grandes êxitos. Estes, enquanto continuam, engendram um certo entorpecimento que lhes torna difícil perceber seu próprio afastamento. Só começa a senti-lo em tempos de crise. As sociedades, também, ficam frequentemente impassíveis ante a tendência do afastamento, fato que é ilustrado pela história da palavra alienação. O termo foi usado pela primeira vez, no seu sentido filosófico, por Fichte e Hegel no começo do século XIX, embora na época sua influência fosse restringida a pequenos grupos de discípulos. Foi incorporado à teoria sociológica nos anos 40 daquele século, quando Marx concentrou sua interpretação do capitalista sobre o conceito da alienação de si mesmo. Mas o conceito não exerceu essa influência por nenhum período de tempo e tornou-se quase esquecido no período seguinte. Agora, cerca de cem anos mais tarde, surge novamente em primeiro plano e se tornou quase uma palavra-chave, mesmo nos círculos que têm pouca simpatia pelo pensamento marxista. Isto bem pode ser devido aos anos de crise contínua que forçaram a nossa percepção sobre o problema da alienação.
Hoje, o problema da alienação do Homem é expresso por muitos — por teólogos e filósofos que advertem que os progressos no conhecimento científico não nos habilitam penetrar no mistério do Ser e não transpõem mas frequentemente ampliam o abismo entre o conhecedor e a realidade que ele tenta entender; por psiquiatras que tentam ajudar seus a voltarem do mundo da ilusão para a realidade; por críticos da recente mecanização da vida, que desafiam a expectativa otimista de que o progresso tecnológico levará automaticamente ao enriquecimento das vidas humanas; por peritos em política que notam que mesmo as instituições democráticas deixaram de levar a efeito a participação das massas nos grandes problemas de nossa era.
Alguns destes pontos, descritos mais detalhadamente nos primeiros capítulos deste livro, voltam às ideias que foram propagadas há cinquenta anos pelo sociólogo e filólogo Simmel e que foram mais tarde articuladas por porta-vozes da filosofia existencialista, pelo letrado católico romano Romano Guardini e outros. Esses autores contribuíram muito para o entendimento de exemplos significativos de alheamento humano. Contudo, foram tentados a se concentrarem em formas específicas de alienação, sem ver como estão correlacionadas sem perguntar se essas manifestações aparentemente isoladas não fazem parte de uma predominante inclinação contemporânea. Enquanto deixarmos de responder a esta pergunta não chegaremos a uma real compreensão do problema. Defrontando as situações de dor e conflito às quais é exposto o homem alienado, veremos nossos sofrimentos como devidos a acidentes infelizes. Ao invés de nos atracarmos em luta contra as forças inerentes à alienação, reagiremos simplesmente com sentimentos de nostalgia e tristeza ou com queixas e protestos vazios.
Este livro tenta evitar erro dessa natureza. Wilhelm Dilthey disse que as manifestações de energia que moldam uma era são análogas umas às outras. Esse discernimento se aplica à compreensão da alienação. A preocupação com formas isoladas de alheamento não deveria obscurecer a percepção de elos entre elas. Não deveríamos excluir antecipadamente a questão de ver se essas expressões aparentemente isoladas não surgem da mesma fonte, da direção básica da nossa época e sua estrutura social. Mas, não estaremos simplificando o problema em demasia
quando relacionamos a alienação a um período específico da História em vez de vê-lo arraigado na condição humana? Muitos leitores levantarão aqui esta questão e a reiterarão à medida que forem a outras partes do livro. Ao autor, isto parece um desafio sério, e ele tenta responder à questão extensamente nos últimos capítulos. Aqui, não é possível advertir de um mal-entendido, que poderá surgir. A tese de que as forças da alienação predominam em nossa era não implica não terem existido em outros tempos. Não assevera que ganharam muito em intensidade e significado no mundo moderno. Relacionar este incremento com a estrutura social de nossa era é o objetivo deste livro.

Detalhes:

Editora: Brasiliense

Ano: 1967

Descrição Física: 112 p. ; 19 cm

Colecção: Acção e Pensamento

Condição: Livro bem conservado